sábado, 20 de outubro de 2012

Mitologias: o pincel dos deuses nas mãos do homem



O homem nasce sem qualquer tipo de bagagem intelectual, e, portanto, em seus primeiros anos de vida absorve com maior facilidade milhares de informações e conceitos, criando em si o que podemos chamar de intelecto humano.
A sentença acima aborda, grossíssimo modo, sobre as concepções piagetianas do conhecimento, as quais são muito importantes na construção que será feita doravante.
A partir do momento em que aceitamos que o homem nasce sem uma bagagem intelectual, passamos a reconhecer o fato de que toda a construção humana é incutida na mente do indivíduo desde tenra idade, fazendo com que este se integre de forma efetiva ao coletivo, ou seja, à sociedade. Esta perpetuação das construções humanas (saberes) desde muito cedo esteve intimamente ligada à experiência religiosa – e aqui compete discutirmos especificamente sobre a experiência mitológica.
Já dizia Mircea Eliade que a primeira experiência própria que o homem tem com seu criador é ao contemplar a infinitude do céu.
Ora: quando o homem olha para uma montanha no horizonte, embora longínqua, ele sabe que se empregar todos os seus esforços pode subi-la; que ao olhar para uma ilha no além-mar, por mais difícil que seja, ele pode alcançá-la.
No entanto... quando este mesmo homem depara-se com o céu sob sua cabeça, ele sabe: jamais alcançá-lo-ei. O céu era o limite para este homem primitivo, que ainda não gozava dos privilégios de um foguete movido a hidrogênio.
Ao deparar-se com o céu o homem então percebe que existe algo maior do que ele próprio, e que este algo maior está além daquele céu. É a força que move o sol de todas as manhãs; a força que faz com que as estrelas brilhem à noite, e que transforma a lua em pequenas frações com o passar dos dias, só para trazê-la em todo o seu esplendor dias depois.
Cria-se, portanto, a concepção do deus criador – o deus primeiro: o grande arquiteto que está acima de tudo e todos.
Mas com o tempo este homem percebe que este deus é muito distante dele: é um deus tão excelso em sua essência que parece não estar presente na vida do homem. Portanto, o homem concebe um deus mais próximo a ele – um deus abaixo do arquiteto primeiro, mas que ainda assim é imensamente poderoso e, o mais importante: está mais próximo do homem.
Portanto, quando o homem depara-se com fenômenos aos quais percebe que não consegue explicar, igualmente idealiza um artífice divino que seja o responsável por tais fenômenos. E estes fenômenos podem ser divididos em dois subgrupos: os supernaturais exteriores e os naturais interiores.
Os supernaturais exteriores concernem àqueles fenômenos que existem mesmo sem a presença do homem: a chuva; o raio; o arco-íris; a neve; o nascer do sol; os eclipses, etc. Já os naturais interiores concernem aos fenômenos que só o homem pode perceber: nascimento e morte; o tempo; o bem e o mal (já polarizados mas externalizados nas ações humanas), etc.
O homem toma o pincel das mãos do grande artífice (o deus primeiro) e desenha, a seu modo, outros deuses que compartilhem de suas alegrias e angústias: deuses da sexualidade; deuses da guerra; deuses da vida e da morte; deuses da justiça; deuses da caça e da pesca; deuses da sabedoria; etc.
Muito das criações mitológicas foram registradas por suas respectivas culturas, e uma obra fantástica que certamente contempla uma grande parte delas é a de Thomas Bulfinch, estudioso que dedicou grande parte de sua vida aos estudos na área de mitologia.
O resultado vocês conferem em sua magna opus chamada “O Livro de Ouro da Mitologia”.


Thomas Bulfinch - O Livro de Ouro da Mitologia: 


Um comentário:

  1. Muito bom mesmo.

    As postagens sobre religião/mitologia são sempre as melhores, parabéns.

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