O homem nasce sem qualquer tipo de bagagem
intelectual, e, portanto, em seus primeiros anos de vida absorve com maior
facilidade milhares de informações e conceitos, criando em si o que podemos
chamar de intelecto humano.
A sentença acima aborda, grossíssimo modo, sobre as concepções piagetianas do
conhecimento, as quais são muito importantes na construção que será feita
doravante.
A partir do momento em que aceitamos que o homem
nasce sem uma bagagem intelectual, passamos a reconhecer o fato de que toda a
construção humana é incutida na mente do indivíduo desde tenra idade, fazendo
com que este se integre de forma efetiva ao coletivo, ou seja, à sociedade.
Esta perpetuação das construções humanas (saberes) desde muito cedo esteve
intimamente ligada à experiência religiosa – e aqui compete discutirmos
especificamente sobre a experiência mitológica.
Já dizia Mircea Eliade que a primeira experiência
própria que o homem tem com seu criador é ao contemplar a infinitude do céu.
Ora: quando o homem olha para uma montanha no
horizonte, embora longínqua, ele sabe que se empregar todos os seus esforços
pode subi-la; que ao olhar para uma ilha no além-mar, por mais difícil que
seja, ele pode alcançá-la.
No entanto... quando este mesmo homem depara-se com
o céu sob sua cabeça, ele sabe: jamais alcançá-lo-ei. O céu
era o limite para este homem primitivo, que ainda não gozava dos privilégios de
um foguete movido a hidrogênio.
Ao deparar-se com o céu o homem então percebe que
existe algo maior do que ele próprio, e que este algo maior
está além daquele céu. É a força que move o sol de todas as manhãs; a força que
faz com que as estrelas brilhem à noite, e que transforma a lua em pequenas
frações com o passar dos dias, só para trazê-la em todo o seu esplendor dias
depois.
Cria-se, portanto, a concepção do deus criador – o
deus primeiro: o grande arquiteto que está acima de tudo e todos.
Mas com o tempo este homem percebe que este deus é
muito distante dele: é um deus tão excelso em sua essência que parece não estar
presente na vida do homem. Portanto, o homem concebe um deus mais próximo a ele
– um deus abaixo do arquiteto primeiro, mas que ainda assim é imensamente
poderoso e, o mais importante: está mais próximo do homem.
Portanto, quando o homem depara-se com fenômenos
aos quais percebe que não consegue explicar, igualmente idealiza um artífice
divino que seja o responsável por tais fenômenos. E estes fenômenos podem ser
divididos em dois subgrupos: os supernaturais exteriores e os naturais
interiores.
Os supernaturais exteriores concernem àqueles
fenômenos que existem mesmo sem a presença do homem: a chuva; o raio; o
arco-íris; a neve; o nascer do sol; os eclipses, etc. Já os naturais interiores
concernem aos fenômenos que só o homem pode perceber: nascimento e morte; o
tempo; o bem e o mal (já polarizados mas externalizados nas ações humanas),
etc.
O homem toma o pincel das mãos do grande artífice
(o deus primeiro) e desenha, a seu modo, outros deuses que compartilhem de suas
alegrias e angústias: deuses da sexualidade; deuses da guerra; deuses da vida e
da morte; deuses da justiça; deuses da caça e da pesca; deuses da sabedoria;
etc.
Muito das criações mitológicas foram registradas
por suas respectivas culturas, e uma obra fantástica que certamente contempla
uma grande parte delas é a de Thomas Bulfinch, estudioso que dedicou grande parte
de sua vida aos estudos na área de mitologia.
O resultado vocês conferem em sua magna opus chamada “O Livro de Ouro da Mitologia”.
Muito bom mesmo.
ResponderExcluirAs postagens sobre religião/mitologia são sempre as melhores, parabéns.